domingo, 20 de outubro de 2013

Sobre os beagles do Instituto Royal e a crueldade com os animais

A inovação tecnológica há muito vem propiciando melhores condições de vida aos seres humanos, todavia, nem todos os indivíduos vivos podem desfrutar plenamente desse benefício. Pra além da concentração de riquezas - coisa essencial para compreendermos o "usufruto" daquilo que é produzido pela humanidade, é a moral capitalista quem define, por enquanto, a distribuição dos ganhos conquistados pelos avanços da tecnologia.
Graças à capacidade humana de desvendar sua realidade a partir de reflexões teleológicos, hoje avançamos muito nos processos de pesquisa, tanto que já é sabido um conjunto de outras estratégias científicas que descartam a crueldade com os animais e utilizam métodos substitutivos como os testes in vitro, as peles sintéticas, simuladores eletrônicos e tantos outros produtos fruto da criatividade humana.
O problema que segue em relação à pesquisa em animais diz respeito, única e exclusivamente a moral capitalista – que garante os privilégios e o lucro da burguesia e seus representantes. Pra que gastar com outras tecnologias se eles [os capitalistas] podem economizar fazendo testes em animais?
Isso não significa dizer que os testes em animais sejam isentos de tecnologia, mas devemos reconhecer que tais procedimentos são uma forma de conhecimento empírico que descarta qualquer valor ético comprometido com a emancipação da humanidade, afinal, eles deixam de lado aquilo que o próprio homem avançou em relação à ciência e a tecnologia. Afirma-se com isso que é a moral do lucro e do individualismo que permeia a relação desequilibrada entre homem e natureza. Aqui está o centro da nossa polêmica.
A violência contra os animais demostra o quanto a cultura atual representa a lógica CRUEL de realizações pessoais individuais e de banalização da vida, seja ela humana ou não. Pode-se caçar por prazer, torturar por prazer e ainda comprar vidas por prazer como se, em todas essas atividades, homens e demais animais fossem coisas. Com animais não humanos é mais fácil identificar esses processos. Mas, como isso acontece com os humanos? Caçam e torturam os pobres somente por serem pobres, escravizam crianças e trabalhadores do campo e da cidade, e ainda admitem – de forma velada – a prostituição e a venda de nossos corpos. Ou seja, a coisificação e banalização da vida afirma que vivemos n'uma forma irracional de sociabilidade entre os indivíduos e indivíduos/seu meio, que não se esgota com os exemplos citados. 
Não se pretende com este escrito, afirmar que a vida de outros animais se iguala a vida de seres humanos, posto que em geral, a vida de seres humanos se iguala a dos animais em especial, quando nos lembramos da exploração, da pobreza e da miséria a que milhares dos nossos são submetidos.
Todavia, não podemos esquecer que a crueldade contra os animais e a destruição do meio ambiente, em todas as suas expressões, representam em ultima instancia a lógica de privilégios do capital e, nesse sentido, reforçam a moral do lucro em nome da falácia do desenvolvimento humano.
O meio ambiente, embora não seja vida humana, compõe parte significativa da sociabilidade entre os homens, e integra seres vivos que podem coexistir em plena harmonia com os indivíduos. Essa coexistência somada às inovações tecnológicas podem oferecer condições de vida plena ao conjunto da classe trabalhadora. 
Infelizmente, vivemos em tempos de secundarização da vida e destruição do planeta sob a ótica da lucratividade do capital, onde o desmatamento de florestas, a destruição da camada de ozônio, o assoreamento dos rios e a poluição do meio ambiente são permitidos para garantir os privilégios da burguesia. 
A recente comoção em torno da libertação dos beagles escravizados no Instituto Royal refletem em parte, os problemas da relação entre homem/natureza/avanços tecnológicosOs testes em animais representam, em primeiro lugar a produção de um conhecimento empírico atrasado, como se os homens já não tivesses criado outras formas de conhecer a realidade. Em segundo, representam uma estratégia cruel do capital para garantir seus lucros, reduzindo seus custos e disseminando assim sua moral vale-tudo assassina.
Afirmamos ainda, categoricamente, que poucos humanos realmente desfrutam dos resultados das inovações tecnológicas produzidas na atualidade, já que nossa sociedade é dividida em classes sociais e o acesso àquilo que foi construído coletivamente fica sob a posse de poucos.
Por fim, e não menos importante, destaca-se que essas frentes de luta não devem ser encaradas como oposição à emancipação humana, tão pouco como pautas secundárias nos processos de enfrentamento entre capital e trabalho pois, lutar contra a banalização da vida, pelo fim da escravidão animal e pela preservação do meio ambiente representa pensar em uma sociabilidade diferente da órbita do capital. 




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