A inovação tecnológica há muito vem propiciando melhores
condições de vida aos seres humanos, todavia, nem todos os indivíduos vivos
podem desfrutar plenamente desse benefício. Pra além da concentração de
riquezas - coisa essencial para compreendermos o "usufruto" daquilo
que é produzido pela humanidade, é a moral capitalista quem define, por
enquanto, a distribuição dos ganhos conquistados pelos avanços da tecnologia.
Graças à capacidade humana de desvendar sua realidade a
partir de reflexões teleológicos, hoje avançamos muito nos processos de
pesquisa, tanto que já é sabido um conjunto de outras estratégias científicas
que descartam a crueldade com os animais e utilizam métodos substitutivos como
os testes in vitro, as peles sintéticas, simuladores eletrônicos e tantos
outros produtos fruto da criatividade humana.
O problema que segue em relação à pesquisa em animais diz
respeito, única e exclusivamente a moral capitalista – que garante os
privilégios e o lucro da burguesia e seus representantes. Pra que gastar com
outras tecnologias se eles [os capitalistas] podem economizar fazendo testes em
animais?
Isso não significa dizer que os testes em animais sejam
isentos de tecnologia, mas devemos reconhecer que tais procedimentos são uma
forma de conhecimento empírico que descarta qualquer valor ético comprometido
com a emancipação da humanidade, afinal, eles deixam de lado aquilo que o próprio
homem avançou em relação à ciência e a tecnologia. Afirma-se com isso que é a
moral do lucro e do individualismo que permeia a relação desequilibrada entre homem
e natureza. Aqui está o centro da nossa polêmica.
A violência contra os animais demostra o quanto a
cultura atual representa a lógica CRUEL de realizações pessoais individuais e de
banalização da vida, seja ela humana ou não. Pode-se caçar por prazer, torturar por prazer e ainda comprar vidas por prazer como se, em todas essas
atividades, homens e demais animais fossem coisas. Com animais não humanos é mais fácil identificar esses processos. Mas, como isso acontece com os humanos? Caçam e torturam os pobres somente por serem pobres, escravizam
crianças e trabalhadores do campo e da cidade, e ainda admitem – de forma velada
– a prostituição e a venda de nossos corpos. Ou seja, a coisificação e banalização da vida afirma que vivemos n'uma forma irracional
de sociabilidade entre os indivíduos e indivíduos/seu meio, que não se esgota com os exemplos citados.
Não se pretende com este escrito, afirmar que a vida de outros animais se iguala a vida de seres humanos, posto que em geral, a vida de seres humanos se iguala a dos animais em especial, quando nos lembramos da exploração, da pobreza e da miséria a que milhares dos nossos são submetidos.
Todavia, não podemos esquecer que a crueldade contra os animais e a destruição do meio ambiente, em todas as suas expressões, representam em ultima instancia a lógica de privilégios do capital e, nesse sentido, reforçam a moral do lucro em nome da falácia do desenvolvimento humano.
O meio ambiente, embora não seja vida humana, compõe parte significativa
da sociabilidade entre os homens, e integra seres vivos que podem coexistir em
plena harmonia com os indivíduos. Essa coexistência somada às inovações
tecnológicas podem oferecer condições de vida plena ao conjunto da
classe trabalhadora.
Infelizmente, vivemos em tempos de secundarização da vida e destruição do planeta sob a ótica da lucratividade do capital, onde o desmatamento de florestas, a destruição da camada de ozônio, o assoreamento dos rios e a poluição do meio ambiente são permitidos para garantir os privilégios da burguesia.
A recente comoção em torno da libertação dos beagles
escravizados no Instituto Royal refletem em parte, os problemas da relação
entre homem/natureza/avanços tecnológicos. Os testes em animais
representam, em primeiro lugar a produção de um conhecimento empírico atrasado,
como se os homens já não tivesses criado outras formas de conhecer a realidade.
Em segundo, representam uma estratégia cruel do capital para garantir seus
lucros, reduzindo seus custos e disseminando assim sua moral vale-tudo assassina.
Afirmamos ainda, categoricamente, que
poucos humanos realmente desfrutam dos resultados das inovações tecnológicas
produzidas na atualidade, já que nossa sociedade é dividida em classes sociais
e o acesso àquilo que foi construído coletivamente fica sob a posse de poucos.
Por fim, e não menos importante, destaca-se que essas frentes de luta não devem ser encaradas como oposição à emancipação humana, tão pouco como pautas secundárias nos processos de enfrentamento entre capital e trabalho pois, lutar contra a banalização da
vida, pelo fim da escravidão animal e pela preservação do meio ambiente representa pensar em uma sociabilidade diferente da órbita do capital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário